Até 2031 o número de idosos deve ultrapassar o de jovens no Brasil, de acordo com uma estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é só um dos motivos para que as empresas invistam em economia prateada.
Ainda segundo os dados, haverá 42,3 milhões de jovens (0-14 anos) e 43,3 milhões de idosos (60 anos e mais). Pela primeira vez, o Índice de Envelhecimento (IE) será maior do que 100, ou seja, haverá 102,3 idosos para cada 100 jovens.
Em 2018, o número de idosos no país chegou a 28 milhões – 13,4% da população; o número de pessoas com mais de 60 anos é superior ao de crianças com até 9 anos.
As projeções do IBGE também mostram que em 2055 o total de 70,3 milhões de idosos e 34,8 milhões de jovens, com o IE de 202 idosos para cada 100 jovens. Ou seja, haverá mais do dobro de idosos em relação aos jovens.
Para atender a toda essa parcela da população que só tende a crescer é importante que as empresas e a sociedade como um todo esteja preparada para as suas demandas. A economia prateada é a que cuida desse nicho de mercado.
Mas, afinal…
O que é economia prateada?
Esse é um termo direcionado às pessoas idosas, de cabelos grisalhos. A economia prateada tem a seguinte definição pela União Europeia:
“Economia prateada é a parte da economia que é relevante para as necessidades e demandas dos idosos.”
A economia prateada engloba uma ampla gama de setores, produtos e serviços que atendem às necessidades e desejos da população idosa. Com o envelhecimento da população em muitos países, essa área da economia tem se tornado cada vez mais relevante.
A consultoria Tsunami 60 mais mostrou que, no país, 63% das pessoas com mais de 60 anos são provedoras da família. Em momento de crise econômica, eles auxiliam os filhos, os netos, pagam as contas das próprias casas e de outras casas com o dinheiro do trabalho ou o da aposentadoria.
Por isso mesmo que a economia prateada movimenta 1,6 trilhão de reais, segundo o Instituto Locomotiva. Há uma estimativa que seja a terceira maior atividade econômica do mundo, uma indústria que movimenta US＄7,1 trilhões anuais, de acordo com Tsunami 60 mais.
Mas muito diferente do que muitos pensam, o mercado não é movimentado por produtos de cuidado geriátrico e tecnologias para saúde. Há muita variedade, até porque os idosos têm gostos diversos, assim como pessoas de outras idades.
Eles estão nas mídias sociais, muitos gostam de jogar videogame ou jogos pelo celular, comprar roupas da moda, paquerar, trabalhar, fazer exercícios físicos, ajudam as famílias e têm vida sexual ativa.
A Professora de Marketing e Comportamento do Consumidor da Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas, Mariana Munis, afirma que é necessário parar de tratar o envelhecer com um tabu.
“O público maduro é composto por humanos, apenas com mais experiência de vida. Portanto, grande parte desses idosos se sentem física e mentalmente ativos, sem levar em consideração a questão da idade, ao consumirem um produto, ou serviço”.
Quais são os princípios da economia prateada?
Não existem princípios fixos e universais que possam definir a economia prateada, mas alguns conceitos e valores fundamentais que são frequentemente associados a ela.
Esses princípios refletem a necessidade de atender às demandas e às características específicas da população madura. Confira alguns:
Inclusão e participação
A economia prateada busca promover a inclusão social e econômica dos idosos, reconhecendo eles como agentes ativos na sociedade. Isso envolve garantir que essa população tenha acesso a oportunidades, serviços e recursos necessários para se envolver plenamente na economia e na comunidade.
Autonomia e independência
A proposta de trabalhar com esse nicho é, também, valorizar a autonomia e a independência dos idosos, buscando desenvolver produtos e serviços que permitam que eles vivam de forma autossuficiente, mantendo sua qualidade de vida.
A promoção de um envelhecimento saudável e ativo é um princípio-chave da economia prateada. Isso envolve o incentivo a estilos de vida saudáveis, a oferta de serviços de saúde adequados, a disponibilidade de atividades físicas e intelectuais.
Acessibilidade e inclusão digital
A economia prateada reconhece a importância da acessibilidade e da inclusão digital para garantir que os idosos possam se beneficiar das inovações tecnológicas e participar plenamente da economia digital. Isso implica em tornar os produtos e serviços tecnológicos adequados às necessidades e habilidades dos idosos, bem como em proporcionar treinamento e suporte adequados.
Respeito à diversidade e às necessidades individuais
Valorizar a diversidade e reconhecer que cada indivíduo idoso possui necessidades, preferências e características diferentes pode ser um dos princípios. Portanto, é essencial oferecer uma variedade de opções e soluções personalizadas para atender às demandas e preferências individuais.
Como aplicar a economia prateada?
Como trabalhar com esse nicho de mercado na prática? Para a aplicação da economia prateada é importante se orientar em alguns tópicos para atender a demanda do público.
Primeiro de tudo, apesar de falar com um público com mais de 60 anos é necessário segmentar ainda mais, já que não é possível generalizar. Por isso, realizar pesquisas para identificar interesses, hábitos e valores é um passo muito importante para a atuação.
É dessa forma que você consegue desenvolver produtos e serviços adequados, que atendam as preferências da população idosa. Colocar o público-alvo no centro do processo de desenvolvimento e na comunicação, garante que as soluções atendam às suas necessidades reais e sejam adequadas ao seu contexto e diálogo.
Até porque a empresa deve fugir dos estereótipos atribuídos aos mais velhos. Os consumidores precisam se reconhecer nos serviços e produtos oferecidos para que possam investir tempo ou dinheiro.
Exemplos de economia prateada
Empresas como Amazon, Nubank e Trekker foram identificadas pelo FDC Longevidade como marcas que obtiveram lucros com o público sênior, por meio de iniciativas como a venda da assistente de voz Alexa.
Mesmo grandes empresas que inicialmente focaram nos consumidores mais jovens começaram a reconhecer a importância dos indivíduos mais velhos. O Airbnb, por exemplo, percebeu o grande potencial dos idosos na plataforma, uma vez que eles recebem as melhores avaliações pelo serviço prestado.
Embora as startups sejam predominantemente lideradas por jovens, elas estão desenvolvendo soluções inovadoras para pessoas com 60 anos ou mais, se concentrando em tecnologia avançada e design.
De acordo com o Sebrae, as tendências para os consumidores da economia prateada são:
serviços de cuidadores;
gestão do cuidado;
engajamento – jovens e seniores;
estilo de vida:
mobilidade;
saúde mental;
gestão financeira.
Qual a importância da economia prateada?
Uma notícia que chamou a atenção no Brasil foi a de três estudantes do curso de Biomedicina, de uma universidade em Bauru (SP), que fizeram piada de uma colega de 40 anos, alegando que está “muito velha” para fazer faculdade.
Em contrapartida, no Oscar de 2023, Jamie Lee Curtis, de 64 anos, venceu como melhor atriz coadjuvante, Ke Huy Quan, de 51 anos, recebendo o prêmio como melhor ator coadjuvante, e Michelle Yeoh, de 60 anos, levando para casa a estatueta de melhor atriz.
É nítido que à medida que a população envelhece, essa abordagem econômica se torna cada vez mais necessária e relevante.
A economia prateada desafia estereótipos negativos associados ao envelhecimento e promove a inclusão social. Ela reconhece os idosos como membros ativos da sociedade, com habilidades, interesses e contribuições valiosas.
Ao combater o estigma do envelhecimento, essa abordagem econômica promove uma visão mais positiva e respeitosa dos idosos, impulsionando a inclusão e a participação social.
A economia prateada também impulsiona o crescimento econômico de forma geral. Ela cria oportunidades de negócios, empregos e investimentos, direcionando recursos para setores relacionados ao envelhecimento, como saúde, moradia, tecnologia assistiva e turismo.
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